Viajo porque preciso volto porque te amo conta a história de José Renato (Irandir Santos, revelação em Besouro e Quincas Berro D’água), um geólogo que percorre o sertão nordestino a fim de realizar uma pesquisa de campo: o percurso do novo canal que será criado com a transposição do rio São Francisco. No entanto, José Renato sempre esquece o verdadeiro motivo da viagem, desviando o pensamento para sua vida pregressa, em que lembra constantemente a falta que sua ex-mulher faz, a solidão na qual se encontra e a viagem que segue.
O interessante é a ausência do óbvio, quando José Renato não aparece no filme, o expectador é levado pela narração: uma voz triste, rouca, solitária, perdida no meio da imensidão sertaneja. Como fuga, José Renato procura distrair-se em cidadelas do interior, onde encontra afago nos braços de outras mulheres, o que não o faz esquecer sua amada. Dentro de um automóvel, guiado pela trilha sonora romântica brega de Lairton e seus teclados, o personagem mergulha num constante diálogo existencialista, em que o desapego do geólogo dá lugar a um José Renato cada vez mais perdido.
Viajo porque preciso, volto porque te amo é um road movie conceitual, que resume a solidão de um viajante em traços fortes do sertão. Sertão que no filme é caracterizado pelo “ser tão” inquieto, “ser tão” sozinho, “ser tão” navegante. Contradizendo o título original, José Renato ama viajar e não voltará até que seja necessário. A fotografia distorce o que costumamos assistir constantemente na tela. Paisagens áridas e estáticas traduzem o sentimento metafórico da contagem regressiva da viagem num mergulho interior do personagem, quando a distância geográfica se confunde com o afastamento de José Renato de sua vida passada.
O média-metragem é uma pós produção de Marcelo Gomes (Cinema, aspirinas e urubus) e Karim Airnouz (Madame Satã e Céu de Suely). As imagens que completam o cenário do filme foram gravadas há 10 anos e ficaram de molho até o projeto ganhar vida e oportunidade para serem utilizadas. O roteiro foi criado pelos mesmos diretores anos depois das gravações, procurando encaixar as imagens nos diálogos de José Renato. Conclusão: montagem fantástica, de altíssima qualidade. A dupla nos ensina o exercício de enxergar o “ser tão” que há em cada um de nós, no vazio das paisagens áridas, no mergulho na própria vida.
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