Alguém acabou de sair pela porta da frente. Deixou-me a ver navios mais uma vez. É sexta - feira e o fim de semana já começou, cheio de festas, comemorações e encontros, os quais não irei comparacer nem dar o ar de minha graça. Nunca fui de frequentar baladas ou sair desgovernada com amigas, porém o que não sentia 'falta' no passado, hoje já sinto e tal 'falta' começou a me deixar raivosa: observar outrem me deixar em casa assistindo televisão nos finais de semana não é coisa pra mim, pensei. Era hilário, ele nunca me pegou na mão e levou as suas farras, eu nunca soube o que ocorria nos encontros, no entanto ele não gostava de meus amigos e consequentemente não gostava que os encontrassem. Afinal, ele sempre me 'abandona' e ruma o caminho de suas festas, as quais eu nunca fiz parte e nos planos dele nunca farei. Honestamente, esse tipo de situação não me pertence...mais.
No início eu não costumava me importar, seu discurso revestido de sinceridade me deixava segura de mim mesma. As ligações no meio da madrugada eram minha salvação. Logo após de seu fulano sair para não sei onde com amigos que mal conhecia, chegava em casa e ligava para mim. Coitada, esperançosa, esperava por suas chamadas como um cão espera por seu dono ainda no portão da frente - seus olhos caídos demonstrando tristeza ao passar seu dia num estado tão despresível. Ainda no início dessa cruel estória, estava sóbria das circunstâncias que me guardavam, o nariz ainda carregava orgulhoso do seu mais novo donativo. Mostrava-me para todos ao lado daquele que todas desejavam, se invertermos a situação o resultado será o mesmo. Éramos pura fachada, mas conseguíamos algo precioso.
Enfim, estava sóbria e demente, não refletia nada após um palmo do meu nariz, foi dessa maneira que mantemos 'essa coisa'. Quando, por fim, cansei de tal situação: todos os finais de semana era a mesma coisa, abandono, esperança nos olhos e salvação. Cansei.
Uma vez cansada, embriaguei-me pela primeira vez e no chão de meu quarto estava imóvel, perplexa e sozinha. O João foi meu primeiro trago, seis tragos na verdade, seis delirantes tragos. Com ele estava leve, raivosa, porém tranquila. Naquela sexta-feira cantei Vitória, Georgia e Prazeres e todas elas me atenderam. Então percebi que não poderia viver mais aquela angústia desnecessária. Enquanto alguém se divertia às minhas custas, estava eu sentada na frente de impropérios.
Fui libertada por hipnose e me senti feliz. Depois de liberta, prometi a mim mesma que nunca mais me abandonaria como fiz por tanto tempo. Não haveria mais finais de semana tolhidos se quer dias de semana.
Alguém acabou de sair pela porta da frente, deixou-me sozinha com o rosto pintando, sapatos vermelhos e vestido decotado, fui ao seu encontro, Oh liberdade. Olhei pra trás e num ato impensado, perguntei aos céus por que ele não dividia comigo seus momentos de descontração? Por que não me levar para conhecer seus amigos? Por que não me oferecer o primeiro trago? Não obtive respostas, caminhei e repeti pela última vez 'aquela situação não acontecerá mais'.
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