domingo, 21 de dezembro de 2008

o que será que me dá?

Era início do ano, portanto o verão gritava na cidade, o calor estava como nunca e o sol era a presença do inferno aquele dia. Final da tarde, por volta das cinco horas, estava dirigindo seu carro, acompanhada de suas amigas que faziam de tudo para transformar aquele passeio em algo lúdico, porém ela tomara um dose de calmante logo no início da tarde, deitara e com os fones no último volume, ouviu as músicas que lhe arrancaram o coração pela boca. Não sabia como guiava o carro com tanta precisão. Dentro do veículo seu silêncio incomodava, o choro preso fazia de sua expressão feia e estranha, os soluços das últimas semanas mudaram sua face.
Ela apenas pensava como sua vida mudaria a partir daquele dia e por mais que quisesse soltar um sorriso, simplesmente não conseguia. Repetia para si mesma diversas vezes que era impossível não se sentir mal, por mais que precisasse expressar o contrário. Imaginava que era puro exagero, mas depois ela tinha certeza de uma única coisa, não queria sofrer, embora seu sofrimento corroesse suas veias há semanas, ou melhor, há meses.
Chegou ao destino: as quatro amigas andavam lentamente, procurando achar alguém conhecido no hall central. Ela parou, hesitou, quis voltar para casa. Na realidade ela nunca quisera estar ali e participar daquela cerimônia, não queria se expor com seus choros e soluços incontroláveis, o que iriam pensar daquela menina? "Nossa, que exagero!" Mas sua força não era compatível com a presença de suas amigas que a carregaram como uma criança pelos braços.
Com as mãos escondendo o rosto andou até as cadeiras onde todos se encontravam, mãe, pai e irmão e lógico ele, que rapidamente a tomou nos braços, foi o abraço mais demorado que deram em quase um ano juntos. Ela desabou. Abraçou a mãe o pai e cumprimentou o irmão. Estava morta de vergonha, como pode fazer papel de criança chorona tão fácil!? Não podia perder tempo, os minutos corriam e logo estariam a léguas de distâcia, essa idéia a matava aos poucos.
Olhou bem fundo aquela imensidão de cor verde - como se registrasse aquele momento para a eternidade - , um beijo demorado, entregou uma carta e não quis mais vê-lo. Era duro demais, estava fraca e não conseguia falar. No fundo tudo doía e nunca sentira aquela dor antes.
Aonde ele estiver, tinha certeza, carregará uma parte dela, isso não mudaria, nunca. Não falou de sua importância pois não conseguiu falar palavras que fizessem sentido. Mas daquele momento em diante enfrentará a vida com sua ausência e isso não tinha a menor lógica.
Olhou para o infinito e imaginava como seriam os finais de semana, os rodízios de pizza, a mc donald's, o sofá de sua casa, a enorme lista de filmes, a leitura dos livros, as aulas de política, as ligações no meio da tarde. O vazio entre seus braços que outrora preenchia com tanta força, o prazer em aperriar, sua melhor gargalhada. Parou por aqui, não quis ir mais além. Desorientada, reprimiu seus próprios pensamentos.
Deixou o aeroporto e voltou para casa, não queria ver o sol daquele verão.

Um comentário:

Cleonardo Mauricio disse...

O bom é saber que le vai, mas volta. E quando menos se espera, virão mcdonalds, sofares, listas de filmes, melhores gargalhadas... tudo de novo, eterno!!