quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

a desvencilhar-me

Com a camisa da Universidade do Porto no corpo, aos poucos me desvencilho do que falta. Adiei o máximo que pude, mas certas coisas devem ser feitas até por questão de praticidade. Com dor no coração e relembrando momentos do cotidiano, tiro as chaves que outrora fora do meu lar em terra lusitana. São duas lindas chaves, pesadas, robustas como quem grita "esse peso faz jus às lembranças cheias que meu dono viveu comigo!" Abrir a porta de vidro que antecede as escadas e logo depois abrir a única porta da mansão de sr. Oliveira e sentir aquele cheirinho de "Portugal" (tal cheiro nomeado por mim, mas que na verdade é o cheiro de mofo gostoso das tralhas da casa) é uma sensação agradabilíssima.


Sem contar os cartões do cliente minipreço próprios para o chaveiro. Esses sim, acho que são mais importantes que as chaves gordinhas. Os meus dias de minipreço...Com uma dor no coração retiro um dos cartões, o outro ficará até a eternidade do meu chaveiro. Atrás está o código de barra que condiz com meu número de cliente.


Adiei muito esse momento. Terei que arrumar uma caixinha para pôr essas lembranças. Mas eu não quero arrumar caixinha nenhuma.
Difícil também foi retirar meus inúmeros cartões da carteira, que também estava um bocado gordinha. Meu cartão de residente europeia rosinha, com ele consegui entrada gratuita no Louvre. Foi tão feliz. Meu cartão andante sub23. Pretinho com o símbolo andante, tão útil nos transportes da cidade do Porto. Meu cartão da biblioteca do Palácio de Cristal, eu bem sei que nao loquei tantos livros, mas faz parte da lembrança.




Os inúmeros ingressos de museus e passagens do metro por todas as cidades que passei. Tenho todos guardados com muito cariño.
Não sou uma pessoa materialista, de jeito nenhum. Apego-me às pequenas coisas mas no fundo, e nem tão no fundo assim, o meu sentimentalismo invade até uma tampa de cerveja Super Bock, que não é uma cerveja alemã, mas para mim é a melhor cerveja do mundo.
Enfim, aos poucos caio na real e descubro que do Porto resta a lembrança de uma vida pregressa indubitavelmente inesquecível e quem sabe um dia não choro mais por saudade...

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Voltei Recife...

Ah o Carnaval...

Para mim os quatro dias do Momo sempre foram de folia, daquelas que tem início ao meio dia e só acaba na madrugada, para no dia seguinte acordar e pular novamente. Gritar o hino do Elefante nas ladeiras de Olinda tem um gostinho especial, tudo é alegria e contemplação. O colorido das fantasias surge a cada passo.
E o carnaval do Recife? Esse nem se comenta, já emblemático, ele é multicultural. Vai dos maracatus na rua do Bom Jesus, aos blocos, aos shows de Otto, Lenine, Alceu, Arnaldo Antunes. Os artistas do quanta ladeira e suas paródias. E ainda a Noite do tambores silenciosos, que, vontade não faltou, mas a admiração fica para o próximo ano. Por final, de um encontro casual, escuto o instrumental que conheço de longe e tenho a surpresa fantástica de assistir ao show de um amigo e ficar imensamente orgulhosa.
Se não bastasse tanta coisa boa num único carnaval, ficou a lembrança de minutos eternos à margem do Capibaribe, o mesmo Capibaribe que corre solto atrás de minha casa.

Pois é, esse ano o Carnaval não foi só a folia, não para mim. Selou o reencontro da cidade, comigo, que estava longe e por pouco desconheci essa imensidão. O carnaval cumpriu sua melhor tarefa, mostrou a cultura de Pernambuco para quem não conhecia e até para quem conhecia mas por um momento se esqueceu.
Agora posso afirmar que voltei, voltei Recife! Posso continuar a viver em paz.